Por: Eraldo Paulino (jornalista e co-fundador da Agência Carta Amazônia)
O Brasil foi estruturado a partir de algumas bases, boa parte delas nefastas, que com o passar dos anos são adaptadas ou renomeadas, mas seguem a lógica de perpetuação de poder, que no caso em questão tem características bem definidas. O retrato do poder em terras tupiniquins é de um homem branco, adultocêntrico, cristão conservador, submisso aos desmandos imperialistas, misógino, racista, lgbtqia+fóbico, escravagista, golpista e que transfere privilégios hereditariamente. Talvez essa introdução possa ser menor. Basta olhar para as eleições municipais em2024: É contra dois homens que se encaixam nessa fotografia que o a classe trabalhadora disputa as eleições.
Assim como sempre ocorreu ao longo da história, há cisões nas elites, inclusive ideológicas. Seria desonestidade intelectual afirmar que Eder Mauro e Igor Normando são exatamente iguais. Não são. Igor é herdeiro do Barbalhismo, que se consolidou desde a década de 80 como uma das maiores oligarquias familiares políticas do Brasil, com um projeto populista, que, como é próprio do principal partido do Centrão, orbita o poder executivo pelo centro mais à esquerda ou à direita, desde que os feudos assistencialistas de vereadores e deputados sejam abastecidos pela máquina pública.
Por sua vez, Eder Mauro representa o “novo” na política recente, esse voto de protesto que foi alicerçado em uma engenharia extremamente eficiente de desinformação, de criminalização das periferias, dos corpos pretos e de todas as lutas progressistas, seja de grupos ambientalistas, antirracistas, que combatem o patriarcado, e etc. Essa forma de capitalizar profissionalmente os algoritmos das redes para construir personagens supostamente antissistema, mas que na verdade são a mais radical força de perpetuação de um sistema de poder conservador, tem no Bolsonarismo a principal força no Brasil. O delegado é o principal representante disso no Pará.
Contudo, essa hereditariedade no poder, que supostamente foi derrubada pelos positivistas na proclamação da República, em 1889, na prática nunca cessou. Foram os mesmos barões das capitanias hereditárias, os mesmos nomes que ascenderam pela via militar, que constituíram essas oligarquias familiares, como os Magalhães na Bahia, os Calheiros em Alagoas, os Sarney no Maranhão e Amapá e os Barbalho por aqui. É muito simbólico que os principais nomes a disputar o Palácio Antônio Lemos sejam Igor Normando - primo do governador Hélder Barbalho, que colocou a esposa no Tribunal de Contas, que tem o irmão como ministro, o pai como senador e a mãe como deputada federal; e Eder Mauro, que tem a nora como candidata a vice e um filho como deputado estadual.
É muito difícil fazer uma ruptura nessa estrutura de poder, sobretudo no executivo. Edmilson Rodrigues em Belém e Ana Júlia no governo são alguns nomes de quadros de esquerda que conseguiram, mas ao mesmo tempo tiveram toda uma máquina midiática e de desinformação, acordos desastrosos com o centrão que cultivaram uma rejeição a governos que, se não excelentes, estão muito longe de serem tão ruins como os de Almir Gabriel, de Jatene, de Zenaldo e Duciomar, ambos reeleitos utilizando a máquina pública de forma escusa, assistencialista e populista, características que Ana e Ed ousaram não reproduzir. O historiador e vereador candidato à reeleição, Fernando Carneiro, já conseguiu dizer isso em várias oportunidades, especialmente em debates, quando concorreu ao governo, em 2010 e 2018.
Esses partidos de centro e de direita historicamente se revezam no poder, mas na prática defendem o mesmo projeto, de concentração agrária, de criminalização dos movimentos sociais, de ataques aos povos tradicionais, de destruição da Amazônia, de perpetuação de uma estrutura de estado frágil, para que vereadores e deputados possam se aproveitar dessa precarização para manter uma estrutura clientelista de conquista de votos. Cair no conto dessa falsa polarização é, em via de regra, eleger um projeto pior ou menos pior.
Estamos na luta pela reeleição do companheiro Edmilson, que já demonstrou, nos primeiros mandatos, que é possível governar sem ter a maioria na câmara, sem fazer alianças com esse centrão parasita. É uma luta hercúlia. É preciso reconhecer que esse mandato cometeu erros, mas sem esquecer que pegamos uma gestão pós-pandemia, recheada de contratos absurdos, como o da máfia do lixo, que está sendo boicotada em relação à nova frota de ônibus, além de ter recebido as finanças arrebentadas. É óbvio que a via eleitoral não é a única, nem a principal forma de lutar para derrubar essa estrutura política arcaica. É urgente derrubar sistema capitalista. Porém, toda guerra é feita de batalhas.
Ocupar espaços, avançar, aprender com os erros e não desistir de lutar de nenhum direito, de nenhum espaço político, faz parte da tática. Derrotar os Barbalho e o bolsonarismo em Belém é, portanto, tarefa de todas as pessoas que trazem consigo a esperança de um mundo mais justo e sem exploração da classe trabalhadora, dos povos tradicionais e recursos naturais. Por isso, dia 06 de outubro, é Ed 50. É Fernando Carneiro Vereador, 50050, por nenhum direito a menos!
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